terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O preço dos medicamentos oncológicos

Recentemente foi publicada uma reportagem dos 60 minutos com o custo dos medicamentos oncológicos e o seu impacto na vida dos doentes nos EUA (vale a pena ver aqui, assim como esta reportagem do New York Times). Entretanto o Christensen Institute publicou um comentário sobre o assunto, salientando a importância de diagnósticos mais precisos. De um ponto de vista económico, convém relembrar a importância da elasticidade preço da procura (que depende da existência de substitutos) na fixação do preço dos medicamentos - quanto menor a sensibilidade ao preço, maior o preço que as companhias farmacêuticas podem cobrar.

1 comentário:

  1. Então aqui vai o meu primeiro contributo para o blog.

    Primeiro a minha declaração de interesses. Sou representante de uma companhia farmacêutica internacional na área da Oncologia.
    Sem desprezar a óbvia avidez que se apresenta na habitual fixação de preços na Indústria Farmacêutica, acho que posso acrescentar alguns dados que muitas vezes não são tidos em conta quando se versa sobre o tema.
    1-Aparentemente a investigação feita por laboratórios privados continua a ser mais eficaz e eficiente. Qual seria o país que se arriscaria numa aventura de investimentos de biliões de euros para descobrir uma molécula que chegaria ao mercado daí a dez ou vinte anos, bem distante do ciclo politico do governo democraticamente eleito no ano zero do investimento?
    2-Foram os vários governos a nível internacional que têm vindo a assinar acordos que limitam a proteção de patentes dos fármacos para 10 anos mas onde só se contabilizam cerca de 7-8 anos de efetiva comercialização visto que tem aumentado a burocracia e entraves ao reembolso pelos vários Sistemas de Saúde. O que teve uma consequência benéfica e imediata que foi a proliferação dos genéricos e uma poupança também imediata, mas com o efeito perverso de levar as farmacêuticas a subir o preço inicial dos produtos que lançam no mercado por forma a que o lucro compense a redução do período de comercialização.
    3- Continua a ser o mercado norte americano a ser o farol na fixação de preços no mercado farmacêutico. É habitual ser feito o primeiro teste nos EUA. Se houver uma aceitação por esse mercado do preço solicitado, as farmacêuticas estão dispostas a perder vendas nos restantes mercados ou a fazer ligeiras cedências nos preços praticados no resto do mundo.
    4-São bem conhecidas as assimetrias da Saúde nos EUA, e a privatização da saúde com o pagamento dos fármacos inovadores a ser feito fundamentalmente por seguradoras tem criado um terreno propicio ao inflacionamento dos preços que o resto do mundo não consegue acompanhar.
    5-Não me parece sério dizer que as farmacêuticas fazem chantagem sobre as pessoas e os sistemas de saúde. O que me parece é que, como qualquer empresa cujo principal objetivo é a criação de valor para os seus acionistas, as farmacêuticas continuam a aproveitar a forma titubeante como os governos lidam com o tema dos custos na saúde e até onde as sociedades estão dispostas a pagar.

    O caso do tratamento para a hepatite c com o preço escandaloso que é solicitado pelas farmacêuticas é mais uma situação onde se confirmam os pontos que referi.
    Apesar de divertida, a analogia feita pelo Prof. António Ferreira, comparando os preços praticados para o leite em pó com o tratamento para a Hepatite C, carece de outra reflexão. O leite em pó neste momento é um genérico, não está sujeito a patente.
    Daqui por dez anos o tratamento para a Hepatite C vai ser vendido por um preço mais baixo que uma lata de leite em pó. "As simple as that..." Se os ministérios da saúde querem, hoje, pagar menos pelo tratamento, é simples. Proponham uma adenda onde os tratamentos "life saving" passam a ter uma proteção de patente de 20-30 anos, diluindo assim os custos no tempo. Os financeiros das farmacêuticas aprovarão de certeza.
    Não adianta diabolizar as farmacêuticas, acho mais produtivo tentar perceber como funcionam.
    E deixo uma questão: "Qual foi a entidade pública, hospitais incluídos, que se preocupou em arranjar uma forma mais barata do que o transplante hepático, para a tratar a hepatite C nestes últimos 40 anos ?"

    obrigado

    Fernando Falcão da Costa

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